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Filipe Gaidão “Demorei a encontrar a mulher ideal”


Joga hóquei, representa, e nos tempos livres é o cozinheiro de serviço do restaurante italiano que abriu com a mulher, Karen Matzenbacher. Aos 32 anos e dois meses depois de ter sido pai pela segunda vez, sente-se um homem realizado. 0 seu maior susto foi ouvir os médicos dizerem que não voltaria a andar.

Terminou as gravações da novela da SIC ‘Podia Acabar o Mundo’. Como correu a sua primeira experiência como actor?

Foi um desafio e uma coisa completamente nova para mim. Mas foi uma experiência que adorei e que gostava muito de repetir. Quero continuar ligado à televisão e vou, inclusive, tirar um workshop de representação, para melhorar e evoluir.

Quando se viu pela primeira vez na televisão, gostou?

Não gostei mesmo nada e tive imensas pessoas a ligarem-me a gozar comigo (risos); mas depois, com o passar do tempo, mudaram de ideias. E eu próprio achei que tinha melhorado.

Os seus colegas ajudaram-no?

Muito, e o ambiente que se vivia nos estúdios era espectacular. Por exemplo, na novela, o Gonçalo Diniz fazia de gay, e uma vez, na brincadeira, eles inventaram uma cena em que diziam que eu tinha de beijá-lo. No início, pensei que aquilo não me estava a acontecer, mas sabia que tinha de encarar a situação com profissionalismo. Depois lá me disseram que era mentira. O ambiente era mesmo muito bom.

Como reage às críticas menos boas?

Não reajo. No hóquei também era assim... E há pessoas que falam por inveja, porque se calhar gostavam de estar no meu lugar ou de ter uma oportunidade parecida. É como em tudo na vida: não podemos agradar a todos.

O que é que a sua mulher, Karen, disse da sua prestação?

É muito sincera, e quando acha que alguma coisa está mal diz.

Ela incentiva-o a continuar a carreira de actor?

Ela gosta de que eu esteja ligado à televisão porque sabe que foi uma coisa que adorei fazer. Agora, se me incentiva a continuar a carreira de actor... aí já é diferente. Preferia que fosse apresentador...

Mas porquê? É ciumenta?...

É, e não gosta nada de que eu possa vir a ter de fazer cenas ousadas (risos). Mas eu entendo. Se calhar se fosse ao contrário eu percebia melhor e saberia separar as coisas e ver que aquilo era apenas trabalho.

Desde miúdo que projectou a vida para o desporto. Em pequeno nunca lhe passou pela cabeça a televisão...

Sempre quis ser jogador de futebol mas houve uma altura da minha vida em que optei pelo hóquei. Depois, também quis ser professor de educação física, porque achava que era uma profissão em que não se trabalhava. E ainda pensei em ser cirurgião...

O hóquei em patins foi uma paixão?

Isto pode parecer estranho mas o hóquei nunca foi uma paixão. Acabou por ser a minha profissão – mas gosto muito mais de jogar futebol e muita gente diz que tinha mais jeito do que para o hóquei...

E por que motivo é que não tentou ser futebolista?

Porque tinha medo de andar de comboio... Quando era miúdo havia um interesse do Sporting, mas como os treinos eram em Alvalade e eu morava em Cascais havia o problema do comboio – e nunca quis ir.

No desporto há uma disciplina grande, que às vezes não permite que na adolescência se faça determinado tipo de coisas. Sentiu isso?

Há disciplina, mas posso dizer que cometi muitas loucuras. Tive uma juventude espectacular, diverti-me à grande, mas também tive juízo para parar na devida altura. Claro que cometi erros, e quando era júnior às vezes ia jogar quase de ‘directa’. Mas fez parte.

Deu muitas dores de cabeça aos pais?

As normais. Os meus pais sempre me deram liberdade mas quando tinham de pôr o travão também o faziam. E, em termos materiais, tudo o que me davam era sempre com os pés bem assentes na terra. Tenho uns pais espectaculares e a educação que me deram é a que tento passar para os meus filhos. Não se pode ter tudo na vida – e às vezes é preciso fazer sacrifícios.

Na escola, tinha boas notas?

Era um aluno médio. O meu forte era a educação física...

‘Baldava-se’ muito para jogar à bola?

Não, porque até ao 8º ano andei num colégio de padres, com uma disciplina muito rígida. Claro que quando me mudei para o liceu foi a minha desgraça.

Casou no ano passado e teve um filho, o Filippo, há dois meses. Como está a ser esta nova experiência da paternidade?

É uma experiência que eu já vivi mas reviver tudo outra vez é muito bom. Foi um filho muito desejado e está a ser fantástico. Felizmente, ele é calminho e deixa-nos descansar.

Gostaria de ter uma família grande?

Eu e a Karen já temos uma família grande porque eu já tinha um filho e ela dois. Agora temos o nosso, o que faz com que às vezes haja quatro crianças a correr em casa. Mas é uma coisa de que gostamos.

Já tinha um rapaz. Não gostava de tentar uma rapariga?

A ideia era essa. Mas veio outro rapaz e eu não me importei nada, porque julgo que ia ser um pai muito mais firme se tivesse uma rapariga. Não sei se é uma questão de machismo mas prefiro sempre que seja um rapaz, pois penso que dá menos dores de cabeça. Mas nunca se sabe, e ainda não decidimos se vamos parar por aqui.

Quando conheceu a Karen?

Há três anos...

Considera que foi na altura certa da sua vida?

Já podia tê-la conhecido um bocadinho mais cedo. Mas julgo que aconteceu quando Deus quis – e o mais importante foi Ele ter-nos posto os dois no mesmo caminho.

Tiveram logo uma grande empatia?

Sim, desde o primeiro dia. Conheci a Karen num evento, e lembro-me de que ficámos sentados lado a lado. Houve logo uma grande empatia, e a partir daí fomo-nos conhecendo...

O que o levou a pensar que era a mulher da sua vida?

Ao princípio não a conhecia tão bem mas à medida que nos fomos conhecendo adorei a maneira de ser dela. Claro que, no primeiro contacto, a empatia teve muito a ver com o facto de ela ser uma mulher muito bonita e gostosa. Mas depois fui-me apaixonando também pela Karen como pessoa. É muito meiga, carinhosa, amiga e extremamente pura. Para mim é a mulher ideal. Demorou algum tempo mas encontrei...

Como lida com o facto de a Karen ter hepatite C?

Encaro com normalidade. É uma doença mas tu habituas-te a viver com ela. E não é nada do outro mundo: só tens de ter cuidado para não partilhar objectos cortantes, e a Karen tem todo o cuidado com isso.

Paralelamente à carreira de actor, está a desenvolver outros projectos?

Tenho um restaurante com a Karen, o Good Food, em Carcavelos. E adoro ir para lá e cozinhar.

Cozinha bem?

Sim, e quando falta o cozinheiro não me importo nada de ir para lá e ser eu a fazer os pratos. Estive um ano a jogar hóquei em Itália sozinho e aprendi, de facto, a fazer duas coisas que já queria há muito: a cozinhar e a língua. No meu restaurante, há alguns pratos italianos que são, inclusive, da minha autoria.

Como foi essa experiência em Itália?

Foi um ano muito importante para mim, em que senti muito a falta do meu filho [Sebastião, de nove anos, fruto do casamento com Paxi Canto Moniz], da família e dos amigos. Foi duro lidar com isso – mas cresci imenso e aprendi muito sozinho.

Nessa altura já estava divorciado de Paxi Canto Moniz?

Tinha acabado de divorciar-me. Estava em final de separação mas as coisas já estavam muito bem resolvidas na minha cabeça.

O ano em Itália é uma das boas experiências que recorda do hóquei?

Felizmente, tenho muitas. Onde passei deixei sempre muitos amigos – e há coisas que não esqueço. Fui para o Porto quando tinha acabado de ter o acidente [queda numa piscina] e eles nunca viraram a cara. Trataram de mim, puseram-me um motorista à disposição e fizeram tudo para que eu recuperasse como homem... Mas no Benfica foi onde passei os melhores anos da minha vida como jogador.

Custou-lhe muito superar o acidente?

Os piores dias foram aqueles em que eu não sabia se ia voltar a andar. Quando tive o acidente, fiquei paraplégico da cintura para baixo, e foi terrível ouvir dos médicos que nunca mais ia voltar a andar. Não era a favor da eutanásia, e continuo a não o ser totalmente, mas sou a favor quando uma pessoa não sente uma razão lógica de viver. E eu, se ficasse numa cadeira de rodas, não sabia se quereria continuar a viver. O que interessa é que tudo correu bem e hoje sou uma pessoa muito feliz.

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