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Marco Paulo: 'Tenho feito o melhor que um cantor romântico pode fazer'


Nome maior da música portuguesa, o cantor fala do novo trabalho 'De Corpo e Alma', do afilhado, da mãe e do fim que um dia há-de chegar...

Depois de 40 anos a fazer versões, grava os seus dois primeiros discos de originais no espaço de três anos. Pode dizer-se que há um novo Marco Paulo?

Não tenho nada contra as versões. Foi com elas que conquistei os maiores sucessos da minha carreira – mas gostei muito da experiência de gravar originais em 2007 e quis continuar a fazê-lo. Mas não existe um novo Marco Paulo. Sou a mesma pessoa e o mesmo cantor.

Mas sente-se a viver uma nova fase?

Sinto um enorme gozo por saber que sou um cantor que pode cantar originais.

Ainda assim, há três versões nos 13 temas (um de Gian Marco Zignano, outro de Diego Alvarez e um outro de Robert Liv). Por que motivo estes em particular?

Gosto muito de música espanhola e sul-americana. Houve uma dessas versões que foi o meu afilhado que ouviu na net e que me pediu para gravar em português.

O seu afilhado é uma das pessoas mais importantes da sua vida?

Sim. Ele dá-me muitas opiniões. É uma geração diferente da minha e por isso também eu lhe peço muitos conselhos.

Ele já está ligado à música?

Ele tem 18 anos e está agora a começar a ter lições de viola-baixo. Gosta muito de música e acompanha-me muito nos concertos. Nas férias, ele gosta é de andar comigo na estrada. Já cresceu neste meio e até gosta de lidar com as minhas fãs.

Qualquer dia está a tocar consigo...

Vamos ver. De vez em quando ele aparece lá em casa com uns amigos da escola e fazem também os seus ensaios.

Gravou este disco com aquele que é provavelmente o maior produtor de música popular portuguesa, o Ricardo Landum, que está por detrás do Tony Carreira. Porquê essa escolha?

Há muito que tinha o desejo de trabalhar com o Ricardo e ele comigo. Esteve para acontecer há alguns anos mas não se proporcionou. Agora tudo foi mais fácil, até porque ele é um colaborador da minha nova editora. Tivemos muitas reuniões e aos poucos fui-me apaixonando pelas canções. Um dia ele ligou-me e eu estava tão entusiasmado a ouvir as músicas que lhe disse: ‘Olha, estou de corpo e alma a ouvir estas canções’. E assim ficou o título do disco, ‘De Corpo e Alma’.

Pensa que o Ricardo descobriu a fórmula mágica para fazer canções?

O Ricardo é uma pessoa extremamente talentosa. No meu caso, empenhou-se de tal forma que não tive qualquer dificuldade em ir para estúdio gravar. Parece que tudo já servia que nem uma luva. Só houve uma música que eu recusei, por não se adaptar muito à minha forma de cantar.

Já experimentou escrever as suas próprias canções?

Já, e não consigo. Claro que gostava de me sentar e conseguir compor uma melodia ou escrever uma letra mas não sai nada (risos).

Nem pensa em investir nisso?

Nem pensar. Isso é uma questão de inspiração e talento, e eu não posso querer entrar numa área para a qual não estou preparado. Sou mais um intérprete, e julgo que até à data tenho feito o melhor que um cantor romântico pode fazer.

Ao final de tantos anos, quem é hoje o seu público?

Tenho público de todas as idades, dos mais idosos ao público das queimas-das-fitas.

Há um tema no disco, ‘Nunca te Esqueço, Mãe’, que é um verdadeiro hino a todas as mães. Que memórias guarda da sua?

Desde que a minha mãe faleceu nunca tinha tido a oportunidade de lhe cantar uma música. E pensei que o Ricardo seria a pessoa indicada para escrever umas palavras à minha mãe. Ela era a minha luz, a minha primeira espectadora e ouvinte. Já o meu pai era um pouco mais distante.

Por que motivo?

Era a maneira de ser dele. Julgo que o meu pai não deve ter visto mais do que dois concertos meus (risos).

Na última entrevista ao CM, disse que se nunca tivesse vindo para Lisboa estaria num grupo de cantares alentejanos. Sente que deve a sua carreira aos seus pais?

(risos) Se não tivesse vindo para Lisboa por causa do meu pai, que era funcionário público, muito provavelmente tinha feito apenas a quarta classe e estaria lá por Mourão, como está muito boa gente.

O que pensa que o fará retirar desta vida?

A morte...

Referia-me a esta vida dos palcos e das canções.

Não sei. Eu sei que não existirei eternamente, como ninguém. Só temos que estar preparados.

E pensa que alguma vez estará preparado?

Não será fácil. Sempre vivi muito intensamente durante 42 anos. Mas a dignidade com que comecei há-de ser a mesma dignidade com que hei-de terminar, com um sorriso nos lábios. Tenho o privilégio de ter conseguido fazer carreira dentro do meu país.

Mas a voz não dura para sempre. Pensar nisso é dramático para um cantor?

Ainda não passei por essa situação. Mas a minha voz ficará para sempre gravada nos discos. E é para mim um orgulho enorme saber que há milhares de portugueses a ouvirem-me em casa neste momento. Há pessoas que não gostam que eu diga isto mas eu sempre disse que são as pessoas que fazem o favor de me ouvir.

PERFIL

João Simão da Silva nasceu a 21 de Janeiro de 1945 em Mourão, no Alentejo. Gravou mais de 70 discos e vendeu mais de três milhões de cópias em 43 anos de carreira.


fonte: correio da manhã

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